jueves, 4 de diciembre de 2014

Panambi: o voo da borboleta


Panambi: o voo da borboleta
Cristiane Grando

Escritora, tradutora, gestora cultural, doutora em Letras (USP) e professora na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA)


Aos 7 anos de idade descobri que a nossa fala é o nosso canto. O mais natural de todos, pois cada fala é uma melodia. – Hermeto Pascoal


Para Hermeto Pascoal, a fala é canto. As crianças sabem isso intuitivamente e, ao ouvir, ao falar e ao cantar em várias línguas, são capazes de se entregar com tamanha naturalidade que podem transformar as palavras da poesia e da música numa festa de sons. A beleza do som na poesia falada, no canto e nas improvisações da performance revitaliza as identidades sociais; os laços comunitários se estreitam através de dramatizações e da presença do livro e da literatura na vida cotidiana das crianças.

Panambi” em guarani, uma das línguas oficiais do Paraguai, significa “borboleta”, ou “mariposa” em espanhol, que também é língua oficial do país vizinho. Em Foz do Iguaçu, onde resido, “Panambi” é o nome de um projeto que existe há quase três anos, coordenado pela professora sênior Alai Garcia Diniz, da Universidade Federal da Integração Latino-Americana. Este projeto já percorreu vários espaços da cidade. Além de atividades artísticas – recitais com poetas e leitores de várias nacionalidades, encontros culturais com comunidades indígenas - o Panambi existe há mais de um ano na Biblioteca Comunitária Cidade Nova Informa – CNI, onde crianças memorizam textos, fazem performances, falam poesia e cantam músicas em português, guarani, espanhol, em encontros semanais coordenados pela professora Alai, com aulas ministradas pelos bolsistas de extensão da PROEX-UNILA Izabela Fernandes de Sousa e Adriano Mendes Brito dos Santos, estudantes de Letras e de Música.

O repertório de poemas e canções das crianças do Panambi é impressionante: elas deslizam-se pelos ares da Biblioteca falando poesia e cantando em várias línguas. O surpreendente é que o resultado costuma ser carinhas de felicidade e brilho nos olhos; e nenhuma preocupação por não dominar línguas estrangeiras ou a linguagem literária, pois as crianças se permitem “sentir” o poema, uma experiência que vai muito além da compreensão dos seus significados. A literatura tem essa capacidade: a de fazer sentir alegria, tristeza, compaixão, ternura não só com o significado de um texto, mas também com a sua sonoridade. O projeto Panambi explora os cinco sentidos e a alegria dos encontros coletivos. Quando as crianças se juntam e se soltam, e correm, e cantam, e pulam, e declamam, a Biblioteca é uma festa! O ambiente se transforma num espaço vivo.

Sonhamos em registrar num documentário as performances das crianças do Panambi, para que suas vozes não se percam, para que o centro e os demais bairros da cidade se comuniquem, para que palavras poéticas voem para outras cidades e países. No presente e no futuro, visualizamos inúmeros voos ao Panambi na voz e no corpo de muitas crianças.


Agradecimentos à professora Laura Ferreira, por sua leitura e comentários.





GRANDO, Cristiane. Panambi: o voo da borboleta”. Fique em Evidência. Ed. 52, Ano 4. Cerquilho, novembro de 2014, p.32

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