Panambi:
o voo da borboleta
Cristiane
Grando
Escritora,
tradutora, gestora cultural, doutora em Letras (USP) e professora na
Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA)
Aos
7 anos de idade descobri que a nossa fala é o nosso canto. O mais
natural de todos, pois cada fala é uma melodia. – Hermeto Pascoal
Para Hermeto
Pascoal, a fala é canto. As crianças sabem isso intuitivamente e,
ao ouvir, ao falar e ao cantar em várias línguas, são capazes de
se entregar com tamanha naturalidade que podem transformar as
palavras da poesia e da música numa festa de sons. A beleza do som
na poesia falada,
no canto e nas improvisações da performance
revitaliza as identidades sociais; os laços comunitários se
estreitam através de dramatizações e da presença do livro e da
literatura na vida cotidiana das crianças.
“Panambi” em
guarani, uma das línguas oficiais do Paraguai, significa
“borboleta”, ou “mariposa” em espanhol, que também é língua
oficial do país vizinho.
Em
Foz do Iguaçu, onde resido, “Panambi” é o nome de um projeto
que existe há quase três anos, coordenado pela professora sênior
Alai Garcia Diniz, da Universidade Federal da Integração
Latino-Americana. Este projeto já percorreu vários espaços da
cidade. Além de atividades artísticas – recitais com poetas e
leitores de várias nacionalidades, encontros culturais com
comunidades indígenas - o Panambi existe há mais de um ano na
Biblioteca Comunitária Cidade Nova Informa – CNI, onde crianças
memorizam textos, fazem performances,
falam poesia e cantam músicas em português, guarani, espanhol, em
encontros semanais coordenados pela professora Alai, com aulas
ministradas pelos bolsistas de extensão da PROEX-UNILA
Izabela Fernandes de Sousa e Adriano Mendes Brito dos Santos,
estudantes de Letras e de Música.
O repertório de
poemas e canções das crianças do Panambi é impressionante: elas
deslizam-se pelos ares da Biblioteca falando poesia e cantando em
várias línguas. O
surpreendente é que o resultado costuma ser carinhas de felicidade e
brilho nos olhos; e nenhuma preocupação por não dominar línguas
estrangeiras ou a linguagem literária, pois as crianças se permitem
“sentir” o poema, uma experiência que vai muito além da
compreensão dos seus significados. A
literatura tem essa capacidade: a de fazer sentir alegria, tristeza,
compaixão, ternura não só com o significado de um texto, mas
também com a sua sonoridade. O
projeto Panambi explora os cinco sentidos e a alegria dos encontros
coletivos. Quando as crianças se juntam e se soltam, e correm, e
cantam, e pulam, e declamam, a
Biblioteca é uma festa!
O ambiente se transforma num
espaço vivo.
Sonhamos em
registrar num documentário as performances
das crianças do Panambi, para que suas vozes não se percam, para
que o centro e os demais bairros da cidade se comuniquem, para que
palavras poéticas voem para outras cidades e países. No
presente e no futuro, visualizamos inúmeros voos ao Panambi na voz e
no corpo de muitas crianças.
Agradecimentos
à professora Laura Ferreira, por sua leitura e comentários.
GRANDO,
Cristiane. “Panambi:
o
voo da borboleta”.
Fique em Evidência.
Ed. 52,
Ano 4. Cerquilho, novembro
de 2014,
p.32.
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